#3 – o primeiro eliminado do bbb
sobre deixar o reality show e não ganhar um milhão e meio
se você soubesse o que fazer
não, esta newsletter não é sobre o maycon, o primeiro eliminado do big brother brasil (aliás, alguém ainda se lembra do tio da merenda? nem vale a pena). nem sobre nenhum outro brother que já foi eliminado nesta edição. falarei de mim (sim, esta é uma newsletter muito autocentrada), mas vamos por partes.
no dia em que o programa estreou, mateus ruffino escreveu que “todo mundo já se imaginou fazendo parte do programa mais vigiado do país”. não só ele toparia o convite (fica a dica, boninho!) como já organizou toda a equipe de comunicação que ficaria responsável pelas suas redes sociais.
obviamente, nunca cogitei com seriedade participar do bbb (um vínculo empregatício me impede de ser pipoca e não sou uma subcelebridade de respeito para ser camarote). mas fiquei pensativo depois do texto dele.
o que você faria, aonde iria chegar?
é difícil já na largada. meu senso crítico (também conhecido como noção) representa uma barreira quase intransponível para a gravação do vídeo de inscrição. os que a produção gosta são os mais toscos e mambembes. quanto mais vergonha alheia, maiores as chances de conseguir uma vaga. é a máxima do “se o não nós já temos, vamos em busca da humilhação”. acho que não consigo.
digamos, então, que boninho me convida. improvável, claro, mas toda edição tem aquela pessoa (frequentemente, até mais de uma) de quem a gente nunca ouviu falar e que ninguém sabe explicar por que é famosa (às vezes, não é). eu sou essa pessoa (e ter a consciência de não ser ninguém na fila do pão talvez estrague a minha participação).
se você soubesse quem você é
convite aceito (você recusaria a chance de ganhar um milhão e meio?), separo as roupas (minha mala só ia ter camisetas lisas ou listradas de lojas de departamento) e sigo para o confinamento no hotel. é ótimo passar uma semana sem contato com outros seres humanos, isolado do mundo exterior e da positividade tóxica do instagram, descansando em uma suíte cinco estrelas e sendo alimentado com o bom e o melhor (não espero menos, hein, boninho!).
dá para aproveitar o tempo livre para reparar se a pintura do quarto está em dia pensar na vida e na melhor estratégia para não ser cancelado e ficar milionário em cem dias (sem ser herdeiro ou se associar a um esquema de pirâmide). livros também ajudam a passar o tempo, mas não sei se eles estão proibidos ou se o fato de ser um leitor depõe contra o participante. na dúvida, melhor ser ignorante não arriscar.
se pudesse escolher entre o bem e o mal
depois de uma semana, chega o dia de trocar o confinamento silencioso do hotel por um hostel muito louco na curicica (uma região do rio de janeiro onde turista nenhum cogita ficar hospedado), com quartos mistos e grande risco de ter de dividir a cama com alguém que você nunca viu na vida.
é colocar o pé na casa e tirar a venda dos olhos para começar o arrependimento: todo mundo começa a gritar efusivamente, a pular e se abraçar. eu – que odeio gritaria e abraços de desconhecidos (vamos normalizar a cotoveladinha pandêmica?) –me rendo (vale um milhão e meio, né?). só não esperem que eu berre ou pareça estar em um show da ivete (que é um lugar bem melhor para estar).
passada a euforia inicial, os participantes se reúnem na sala (onde nem metade consegue se sentar no sofá) para uma apresentação montessoriana. neste ano, o jogo começa com 26 pessoas. qual é a chance de a dinâmica de grupo ser minimamente interessante? zero. eu certamente preferiria ser o último da fila da caixa econômica no quinto dia útil do que estar ali. como o jogo é baseado na interação, repito o mantra: vale um milhão e meio.
as apresentações acabam (ufa!) e eu não decoro o nome de ninguém, só dos camarotes realmente famosos (paciência). com o tempo a gente passa a conhecer melhor as pessoas (e descobre que algumas nem valem a pena).
se querer é poder
bora conhecer a casa mais vigiada do brasil. apesar de três quartos, não há cama para todo mundo (como na casa de praia onde você passava as férias), as paredes são mais coloridas do que um quadro de romero britto e os cômodos são finamente decorados como casa de vó. tem piscina? tem, mas você não vê ninguém sair para fazer xixi (eca!). como se não bastasse, é preciso racionar água e não há banheiros em quantidade proporcional ao número de hóspedes. perrengue nada chique: três meses tomando banho de sunga e chinelo e se ensaboando com xampu por nojo de compartilhar sabonete (até a banheira do gugu era melhor).
foco no prêmio para não surtar, nem apertar o botão de desistência. pior do que a casa lisérgica é a convivência com toda aquela gente, principalmente para um antissocial como eu. ter que fingir interesse e procurar se enturmar exigem um esforço mental que pode me custar caro na prova do líder.
tem que ir até o final se quiser vencer
passar fome na xepa e não ter oito horas de sono são privações que me deixam irritado, mas o que decide minha ruína no programa é a minha profunda incapacidade de aturar gente chata ou burra (e o boninho é mestre em selecionar participantes que cumprem um ou os dois requisitos). o ranço, uma vez instalado, é mais duradouro que o castigo do monstro.
as pessoas insuportáveis e pouco inteligentes costumam dar bandeira logo de cara. e, como sofro de incontinência facial, não teria como disfarçar as vezes em que franzo a testa (não há botox no mundo que resolva), respiro fundo, bufo ou reviro os olhos. são atos involuntários que me custam caro.
os participantes logo percebem meu ponto fraco (para meu azar, até os burros) e largam votos em mim (combinaram votos?). sem ter vencido a prova do líder ou ter sido agraciado com a imunidade do anjo, vou para o paredão. não adianta tentar torcer por mim ou fazer mutirão. já estou preparado quando o tadeu diz: “quem deixa o bbb hoje é você, pedro”. e aí já era um milhão e meio...
se você gostou desta newsletter, que tal dizer isso ao mundo?
enquanto eu não volto...
você pode aproveitar para curtir estas dicas:
🎬 maestro, filme de bradley cooper (netflix)
🎧 beautiful people (stay high), clipe de the black keys
🎧 uma chance, clipe de júnior almeida (com mart’nália)
🎧 nossa resenha, música de os garotin (com caetano veloso)
🎧 all about you, música de jeymes samuel (com jorge ben jor)
📝 aurora, uma newsletter diária sobre o mundo criativo
📝 educar a vontade, de elizabeth sucupira
📝 jeitos de ter ideias, de fabiane guimarães
📝 existe desejo, não solução, de liliane prata
📝 memória dos trilhos, de raisa monteiro capela
tem outra dica legal? só mandar!
por hoje é só. até mais! dê sua espiadinha!
INCONTINÊNCIA FACIAL!! dei gostosas gargalhadas! entendo seu drama. e amei o clipe do The Black Keys. que saudade deles!
Acho que a gente brigaria pela primeira saída, hein, Pedro. Dois queridos muito bem ambientados na casa mais vigiada. Boninho deveria nos convidar só pra testar. Muito bom! haha