#7 – uma máquina de especulações
sobre o filme vidas passadas, a nossa capacidade de idealizar e a impossibilidade de voltar para quem fomos um dia
como seria se...
um belo dia, hae sung acorda encasquetado com uma lembrança guardada há doze anos nos recônditos da memória: como estará aquela menina por quem arrastava uma asa no colégio e que se mudou para outro país com a família? ele faz, então, o que qualquer jovem conectado faria: procura no facebook, mas não a encontra. em outro belo dia, mas a um continente de distância, nora se recorda do amigo de escola que deixou para trás. com melhor sorte (afinal, ele não havia ocidentalizado seu nome), ela localiza o perfil dele.
seriam estranhos um ao outro? o amor pueril da infância permaneceria o mesmo no coração dos jovens adultos? ela ainda teria ambições do tamanho do mundo, a ponto de chorar por não ocupar uma posição de destaque? ele, por sua vez, conservaria a empática capacidade de ceder o topo do pódio em favor dela e se contentar com o segundo lugar? muita coisa havia mudado, mas o que seguiria igual? teriam agora diferenças inconciliáveis? dúvidas tão grandes quanto o fuso horário que separa seul de nova york.
hae sung e nora se falam por chamada de vídeo, relembram o que viveram juntos e atualizam suas vidas um para o outro, mas o oceano entre eles e os compromissos de cada um impõem um novo distanciamento. sobram, outra vez, os inúmeros pensamentos de como tudo poderia ter sido diferente se ela não tivesse migrado, se os dois continuassem estudando na mesma escola, se ainda fossem amigos na capital da coreia do sul, se, se, se...
mais uma década se passa e hae sung decide passar férias em nova york. como será o reencontro com nora? o que terão a dizer um para o outro? ficarão juntos, mesmo ela estando casada e ele vindo de um namoro recém-terminado? um amor do passado é capaz de reflorescer tantos anos depois? ou se sentirão estranhos que um dia compartilharam de alguma intimidade?
as respostas – ou melhor, algumas possibilidades – estão em vidas passadas, filme de celine song indicado aos oscars de melhor filme e melhor roteiro original e que tem gerado enorme boca a boca aqui no brasil (na minha bolha, pelo menos).
mas e se...
o sucesso é perfeitamente compreensível. somos, todos, seres sociais (nem sempre sociáveis, é verdade) e imaginativos. estamos sempre confabulando, fantasiando, idealizando, conjecturando e levantando hipóteses sobre o lugar em que estaríamos caso tivéssemos tomado um caminho diferente nas bifurcações que a vida nos impôs.
diante da inexistência de respostas conclusivas, os questionamentos não findam jamais; cada encruzilhada nova faz disparar a máquina especulativa. imaginar como seria é o máximo que conseguimos fazer, pois a vida só nos permite seguir adiante.
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enquanto eu não volto...
você pode aproveitar para curtir estas dicas:
📖 a vergonha e o acontecimento, livros de annie ernaux
🎧 stick season (forever), álbum de noah kahan
🎧 party in the blitz, música de pet shop boys
🎧 deeper well, clipe de kacey musgraves
📝 biblioteca: essa coleção de imaginações, newsletter de rodrigo casarin
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por hoje é só. até mais!
Aquele choro no final que pode ser de tristeza ou de alívio por não ter seguido o ‘e se…” A naturalidade dos atores também me pegou muito. Muito bom!