#8 – créu na velocidade cinco
sobre versões aceleradas de músicas, vida corrida, necessidade de pausa e um conselho de lenine.
corre, bino, é uma cilada
tenho o hábito de escutar playlists prontas do spotify. não sendo (e sem pretensões de ser) dj, e tendo muita preguiça elas são a melhor maneira de descobrir novas músicas e de saber quem figura no topo das paradas de sucesso (entreguei a idade agora). sejamos honestos, o algoritmo (sempre ele!) trabalha bem direitinho neste quesito. quer dizer, eu já vendi minha alma ao diabo facilitei a missão dele ao seguir artistas e ao curtir centenas (milhares, talvez) de músicas. então, é só o robô monetizar meus dados juntar lé com cré e entregar o que eu indiretamente já manifestei interesse. mas essa newsletter não é sobre a tirania do algoritmo, embora ele tenha algum protagonismo.
falo aqui de um fenômeno percebido recentemente nas playlists de novidades da semana (de onde saem algumas das indicações deixadas no fim desta newsletter). imagino que você também já tenha reparado nas tais versões speed up.
volto um pouco no tempo. era comum (e ainda é) cantores e bandas lançarem primeiro um single ou um álbum gravado em estúdio, na melhor qualidade possível. a chamada música de trabalho era distribuída às rádios e cantada na televisão (muitas vezes em playback). quando estavam prestes a saturar, vinham as gravações ao vivo para manter a canção na crista da onda (olha eu entregando a idade outra vez). depois, no máximo, rolava uma sobrevida com algum remix.
agora, além dessas possibilidades (e do lobby pesado da indústria fonográfica), chegam aos tocadores as versões speed up. o nome é autoexplicativo: nada mais são do que as músicas em um ritmo descerebrado acelerado. se você ainda não teve o desprazer de ouvi-las, proponho um exercício imaginativo: pegue a canção de sua preferência e a imagine cantada pelo alvin (sim, aquele dos esquilos) como se fosse o créu na velocidade cinco. pavoroso, né?
sem tempo, irmão
o sucesso do speed up é um sintoma (e não uso esta palavra à toa) do nosso modo de vida cada vez mais acelerado. mensagens de áudio são ouvidas na velocidade dois. muita gente escuta podcast em ritmo veloz. há quem veja vídeos no youtube e até filmes assim. cinco segundos de um story e já pula para o próximo. os próprios artistas encurtaram suas músicas, porque ninguém tem tempo a perder. na economia da atenção, tempo é dinheiro.
para que tanta pressa? a menos que seja para tirar o pai da forca (hoje eu estou trabalhado nas referências de velho), ela não se justifica. a vida já anda tão corrida que acelerá-la ainda mais só causa angústia (e burnout, no casos mais agudos). embora a gente queira, não dá para fazer tudo ao mesmo tempo e agora. é preciso estabelecer prioridades e aprender a respeitar o ritmo das coisas. se você parar e reparar, é a gente que transforma tudo em urgente e imediato. ninguém vai morrer por esperar um pouco para ter a mensagem respondida (a menos que seja um chamado para o samu) ou por assistir na semana que vem aquele filme que estreou ontem.
longe de mim querer ser coach (pavor só de pensar nessa possibilidade), mas faça pausas, respire, encontre um ritmo que seja confortável para você, estabeleça quais são as suas prioridades (e as priorize de verdade) e o que pode ser deixado para depois, não negligencie tempo para descanso (físico e mental). senão o meu, siga o conselho de lenine: se recuse, faça hora, vá na valsa. um pouco mais de paciência não faz mal a ninguém.
se você gostou desta newsletter, que tal dizer isso ao mundo?
enquanto eu não volto...
você pode aproveitar para curtir estas dicas:
🎬 pobres criaturas, filme de yorgos lanthimos
🎧 salve o planeta pergunte-me como, episódio de rádio escafandro
🎧 training season, clipe de dua lipa
📰 milagres em domicílio, coluna de josé eduardo agualusa (o globo)
📰 o que torna um texto brega?, coluna de tati bernardi (folha de s. paulo)
📰 não dá mais para confiar em vídeos, coluna de ronaldo lemos (folha de s. paulo)
📝 a ilusão do vip, newsletter de andrea
📝 férias conjugais, newsletter de liliane prata
📝 apreciando a arte na era da emoção, newsletter de vanessa guedes
tem outra dica legal? só mandar!
por hoje é só. até mais!
Link Pedro,,, Obrigado juan
https://masticadoresbrasil.wordpress.com/2024/02/26/8-creu-na-velocidade-cinco-by-pedro-rabello/
Socorro, não tava sabendo desse recurso não! Já sinto falta de ouvir álbuns inteiros (acompanhando as letras no CD, ó lá a idade), imagina destroçar as músicas desse jeito...